Por que nossas crianças não vão bem em matemática?
Por que nossas crianças não vão bem em matemática?
Você sabe calcular porcentagem de cabeça ou precisa de uma calculadora? E contas com números decimais? É comum ouvirmos de muitos adultos por aí a frase “odeio matemática”. Muitos adultos até conseguem fazer uma conta de multiplicação bem rápido, mas não conseguem explicar o que são números naturais ou racionais, por exemplo.
Tais dificuldades não são fruto da maturidade. Esses obstáculos nascem lá na infância, quando, em um momento crucial do desenvolvimento infantil, o ensino da disciplina não considera preceitos básicos para a construção de conhecimento que permita compreender as propriedades dos sistemas matemáticos, que não se restringem a “aplicar tal regra”, mas a saber lidar com problemas, levantar e ajustar hipóteses, debater estratégias e generalizar procedimentos que deram certo.
Não por acaso, Priscila Monteiro, coordenadora do Instituto Avisa Lá e coordenadora da Pós-Graduação em Didática da Matemática no Instituto Superior Vera Cruz, defende que “saber matemática é uma forma de dialogar com o mundo, e não apenas saber fazer contas”. É, portanto, uma linguagem! Priscila fala sobre essa outra maneira de se relacionar com o que não sabemos.
Segundo Priscila, essa é uma conversa urgente. Os dados mais recente mostram exatamente isso: de acordo com o Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 35% dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental têm conhecimento adequado na disciplina. Além dos entraves cognitivos que esses índices representam, eles evidenciam também a exclusão de milhões de cidadãos ainda na infância.
Sobre os resultados, Priscila faz um importante alerta: os professores precisam de formação. “Há no 2º ano do Ensino Fundamental uma ruptura de natureza pedagógica no ensino de matemática: muitas crianças são submetidas às continhas estruturadas [de adição, subtração] sem que elas estejam preparadas para tal”, alerta a educadora.
O problema, porém, é sistêmico. As universidade não ensinam aos docentes como as crianças pensam e de que modo valorizar essa peculiaridade, da mesma maneira que muitas redes falham no apoio aos professores. “Eles precisam de atividades de aperfeiçoamento constante para lidar com as perguntas e questionamentos dos estudantes”, pontua Priscila.
Perguntas essas que, segundo a educadora, dão pistas sobre como a metodologia é parte do processo de aprendizagem da disciplina. “Matemática é como falar: a criança vai falando tudo errado, mas você não pede que ela se cale. Da mesma maneira, as crianças precisam, desde a Educação Infantil, propor soluções a problemas matemáticos. Por exemplo, é possível levar um calendário para a sala de aula e refletir com os alunos sobre os dias ou falar sobre a que hora os pais vêm buscá-los”, indica Priscila. “Seja na Pré-escola, seja nos primeiros anos do Ensino Fundamental, o aluno precisa testar hipóteses próprias e ser direcionado em um processo pedagógico que o leve à compreensão da resposta correta. Isso é muito diferente de dizer: ‘é isso’ e pronto”.
Quanto antes o mito da matemática como um conhecimento “difícil” for eliminado, mais rápido avançaremos rumo a uma aprendizagem democrática, concretizando a missão das escolas públicas: dar acesso ao conhecimento. Inúmeras pesquisas de desenvolvimento infantil atestam que toda criança é capaz de aprender. Dito isto, o que falta? Oportunidades de aprendizagem para todos, que somente serão possíveis mediante a uma articulação que coloque as crianças no centro, destinando tempo, pessoas e financiamento para a Educação e, consequentemente, para o desenvolvimento pleno infantil.
Aprender matemática no começo da escolaridade, faz, segundo Priscila, toda a diferença. “É fundamental para a autoestima do aluno. Quando ele é bem acompanhado, testa hipóteses matemáticas e chega a uma resolução correta, há um ganho de confiança em si mesmo”, afirma a educadora.
Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com
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